Saiu na mídia - Revista Época
Adilson Barroso é o político com mais seguidores no Facebook. Ele supera outros mais famosos postando flores e dicas para evitar dor de barriga
Ele tem uma legião de fãs e pretende ser o presidente da República, mas é provável que você nunca tenha ouvido menção a seu nome. É o político brasileiro mais seguido no
Facebook (quase 8 milhões de fãs), muito além dos pré-candidatos à frente nas pesquisas eleitorais para a eleição de 2018. Ali, o perfil de Adilson Barroso – presidente do nanico partido Patriotas – arrebata mais apoiadores que Lula, Jair Bolsonaro, Marina Silva e Geraldo Alckmin.
Se no mundo virtual é um gigante, a origem de Barroso está na pacata Barrinha, no interior de São Paulo, cidade conhecida como a “princesa do Mogi”, em razão do rio que a atravessa. Foi lá que Barroso se tornou o segundo vereador mais votado. Conquistou 497 eleitores no último pleito.
Bolsonaro, o segundo político com mais fãs no Facebook, conta com 2,5 milhões de curtidas a menos do que Barroso. Os números do vereador de Barrinha se destacam no panorama mundial. Angela Merkel, Justin Trudeau, Emmanuel Macron e Theresa May, líderes de alguns dos países mais influentes do globo, passam longe da marca conquistada por ele. O canadense Trudeau, jovem, bonito e com um secto de fãs, só chega aos 5 milhões de curtidas.
A receita do sucesso, para Barroso, é simples: evitar a política, apesar de ser político profissional. No mundo virtual, opta por ensinar potenciais eleitores a aliviar o desconforto no estômago ou a fazer cremes rejuvenescedores. “Tenho fotos de flores com 180 mil curtidas. De banana bonsai, com quase meio milhão. Se puser que o Lula ou o Temer não prestam, o povo não quer saber. Não vai dar nem 100 curtidas. O que eu busco é criar uma amizade com o eleitor”, justificou.
O campeão do Facebook tem participação discreta na política. Foi vice-prefeito de Barrinha por duas vezes. Em suas quatro tentativas para se eleger deputado estadual por São Paulo, fracassou em três. Obteve mandato na legislatura 2003-2006, graças ao desempenho da famosa Havanir Nimtz, candidata fenômeno do PRONA no pleito de mais de dez anos atrás.
Para chegar aos 7,6 milhões de seguidores de maneira orgânica, não bastam apenas as flores e os bonsais. Barroso recorre aos impulsionamentos, o pagamento para ampliar a veiculação de postagens nas redes sociais.
A reforma política, aprovada no final do ano passado, legalizou a divulgação eleitoral nas redes sociais. As postagens pagas para potencializar o alcance de leitores foram permitidas desde que os autores sejam identificados e façam parte do comitê de campanha dos candidatos beneficiados.
Barroso vangloriou-se de ter impulsionado a aprovação da liberação da campanha virtual em conversas com o relator da reforma, o deputado Vicente Cândido (PT-SP). “Fiz a ele esse pedido que me impulsionaria nas redes sociais.” O vereador argumentou que a medida combateria o desmatamento, porque reduziria o abate de árvores usadas na impressão de papel dos quase onipresentes santinhos eleitorais. Outro argumento foi que os candidatos poderiam “chegar aos apartamentos”, em vez de se limitarem à distribuição de papel nas ruas.
O Brasil possui mais de 110 milhões de usuários no Facebook, um número graúdo mesmo considerando a existência de perfis falsos e perfis administrados por computador. “Não vai ter um eleitor no Brasil que não vai ficar sabendo da nossa candidatura. Isso tudo sem poluir”, sonha Barroso, sem se importar com os números das pesquisas eleitorais, que ainda o limitam a candidato-traço, aquele que não soma menções suficientes para pontuar.
A internet pode mobilizar cifras milionárias na eleição brasileira deste ano. Na eleição presidencial americana de 2016, o gasto em publicidade digital foi de US$ 1,4 bilhão, ultrapassando o investido na televisão a cabo e no rádio. “Os fãs das páginas ajudam a construir um pensamento, uma imagem ideológica. Por meio dela, o político se vincula ao eleitor. É uma estratégia que estimula reações emocionais”, analisou André Miceli, professor de marketing digital na Fundação Getulio Vargas. Além disso, perfis falsos com frequência se
tornam disseminadores de postagens para enlamear os adversários, concentrando a parte suja da campanha.
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